segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Pegue leve


Sabe aquele dia em que você por algum motivo desconhecido, trás à memória recordações que estavam escondidas na bagunça da sua mente? Hoje, amanheci com um monte de lembranças povoando e pulando sobre os meus pensamentos, tomando à frente de outros que eu julgava serem prioritários na minha longa lista de organização. Então, resolvi postar algumas lembranças. 
Escrever é a minha forma de organizar os pensamentos, engavetar ou jogar fora coisas que me fazem mal ou bem... Não importa. ( como se não fizesse isso todos os dias) Minha terapia diária, rsrs.
Uma amiga me pediu para ir a uma loja comprar ovos de chocolate para ela, pois era véspera da Páscoa e ela não tinha tempo de ir na loja comprar os "benditos e caríssimos" ovos. Eu sabia que a loja estaria super cheia e eu perderia algumas horas preciosas naquele lugar. Mas, como dizer não? Ela sempre quebrava os meus "galhos".
A loja estava super cheia, carrinhos e cestas abarrotadas de ovos de chocolate e caixas de bombom, pessoas se espremendo em filas que davam voltas e mais voltas. Calor, o ar condicionado desligado. Pessoas disputando as promoções quase no tapa e eu com três ovos em uma fila insana. ( Eu evito entrar em qualquer loja em datas comemorativas- Páscoa, natal, dia das crianças, etc....)
Alguém empurrou a pessoa que estava atrás de mim e essa pessoa perdeu o equilíbrio e me empurrou para frente. Tentando não cair, ergui minhas mãos tocando na pessoa que estava parada diante de mim; era um homem bem vestido que se virou com os olhos arregalados, gritando que eu o havia sujado. Pedi desculpas e ele parecia fora de si. Começou limpando a roupa com força como se estivesse cheio de poeira. Batia no corpo em um desespero assustador. Olhei para os ovos de chocolate pensando que haviam quebrado. Custei entender que a sujeira que ele se referia era eu com a minha cor. .. (Ele não era nenhum "ariano", posso garantir que alguém da sua família era negro) Ele saiu da fila ainda limpando suas roupas e me olhou como se estivesse olhando para um monte de lixo, cuspiu no chão. Sumiu no meio da multidão. O sangue desapareceu das minhas veias. Minhas pernas estremeceram e até hoje me pergunto como consegui pagar os "benditos" ovos e chegar em casa. Perdi a noção de tempo e de espaço. Perdi completamente o chão... Bloquei essa terrível lembrança, e hoje, ela resolveu sair pulando por cima do meu coração. Talvez, ela quisesse simplesmente dar uma volta e ver se alguma coisa mudou. Talvez ela quisesse apenas voar para bem longe...
Mas, quer saber? Naquele dia aprendi que o que não mata, te fortalece. Ah, como fortalece!
Racismo dói na alma.
M. Cristina Oliveira
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