quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Moldados pela dor


Quando escrevi "Intimidade", era exatamente em pessoas assim que eu estava pensando quando criei "Vanessa".
Pessoas que apesar das suas dores mais profundas, dos altos e baixos da vida, conseguem manter a fé e o bom humor ( buscam dentro de si uma força "desconhecida", e vestem-se com ela). Pessoas que conseguem transformar  ambientes através da sua escrita, ambientes tenebrosos, sem luz e  sem cor, Pessoas que conseguem  enxergar a alma, e não apenas as circunstâncias desfavoráveis do momento.
Muitos se assustaram com as atitudes da minha personagem, desacreditando na possibilidade de um ser humano ser tão "cheio de fé" ao ponto de enfrentar cara a cara sua fragilidade e a sua doença.
Sim, existem pessoas que conseguem sorrir em meio as tempestades e procuram manter sua sanidade, enxergando além do que os olhos podem ver ( irradiam luz e nos fazem desejar abraçá-los não só com os nossos braços, mas, com nossas preces e com as nossas almas. Elas sofrem, sentem, lamentam, choram, desanimam... São "humanas", talvez por isso, ficamos tão impactados. Pois, a sua dor, não as fazem perder o seu melhor, ao contrário: elas criam raízes profundas e frutificam. Seus frutos são bons e atraem. ( temos a sensação de conhecê- las há décadas), o nosso melhor também aflora, é mágico)
Pois bem, apresento a vocês uma pessoa especial, que faz e fará a diferença. Que ama e honra o seu Criador. Que faz "Vanessa whaiting ganhar "vida", ela deixa de não apenas uma ficção.
Esse é apenas um dos seus textos, mas, em todos os que eu tenho lido, curtido e me emocionado, a fé tão questionada de "Vanessa", se faz presente.
Sim, é possível! Há, muitas "Vanessa whaiting" mudando a sua geração com a sua fé, com seu dom, com a sua luta, com a sua dor...
Moldados pela dor (título colocado por mim)
"Há um sentimento de proximidade que nos envolve durante a espera naquelas salas bem iluminadas e ventiladas, seja na quimioterapia ou na radioterapia, ou mesmo no dia da consulta com o oncologista; somos iguais ali, independente da idade, sexo, cor, credo ou status social, somos nivelados pelo mesmo sentimento de medo, esperança e pela dor; a dor é a característica mais comum agora enquanto escrevo e se repete no corpo de milhares de pacientes com câncer.
há um sentimento de solidariedade na grande maioria naqueles corredores, uma prontidão no sorriso, no socorro, na resposta e somos assim moldados, mesmo que pela dor e pela desesperança que insiste em se alojar e nos fazer chorar no banheiro ou virado pro bebedouro, ou com a face entre as mãos enquanto fingimos cochilar; somos moldados e nos tornamos compassivos, elegantes com a situação extrema daqueles nos quais a doença se manifesta visivelmente, e não ficamos encarando sondas, ou tubos nasais ou tumores externos, nem fazendo perguntas idiotas que as pessoas sem câncer já nos fazem, aos montes.
Somos empurrados pra baixo quase o tempo todo, enquanto vivemos com dor ou com enjoo, somos empurrados para baixo nas crises de tosse e nos engasgos horrorosos, e sentimos vergonha sim, que nos vejam sem ar ou precisando cuspir em algum canto, mas somos igualmente içados pra cima e até se desenha um sorriso na boca quando recebemos qualquer notícia favorável, nos enchemos duma energia nova, e sorrimos e respondemos aos "bom dia" com outro "bom dia" ainda mais sonoro e vibrante.
Pois bem, "seu" Gabriel entrou na sala de espera (aquele rabugento, "reclamão", de bigode despenteado, desaforado, mais bravo que jararaca de resguardo) e ficou exatamente na mesma cadeira de todos os dias (parece comigo, homem de hábitos), e o alto falante anunciou o nome de uma senhora bem debilitada, e o "seu" Gabriel" já espanou, pois era pra chamarem o meu nome e chamaram "a véia" (ele disse a véia", e se dispôs a ficar irritado com um assunto que dizia respeito a mim.
Eu disse que estava tudo bem, a senhora é idosa (não é véia, como ele se referia a ela) estava debilitada, que fosse atendida primeiro, que pudesse ter a alegria de voltar pra casa um pouco mais cedo; ele se calou, era talvez a única chance que ele teria de implicar com alguém ou alguma coisa e tirei isso dele, ri baixinho vendo a cara de contrariado que ele fazia.
Chegou a vez dele, foi atendido e passou direto pelo corredor, sem se despedir, chegou minha vez, fui o último daquele turma e não havia ninguém quando passei pela sala de espera.
Quando alcançamos a rua dei de cara com "seu" Gabriel" e só então percebi que ele estava muito bem arrumado, aparou e penteou o bigode, camisa pra dentro das calças e sapatos limpos, estava me esperando ao pé da rampa e estendeu a mão, e disparou: "queria te contar uma coisa, hoje foi minha última sessão de tratamento da doença ruim, amanhã só preciso vir aqui pro "dotô" me liberar, tô bom de novo".
Eu apertei a mão dele diversas vezes, eu fiquei muito feliz, era uma comemoração, ou mais, era uma celebração ele me esperar para contar algo tão importante pra toda a vida dele, e agora se tornava importante para minha vida inteira; "seu" Gabriel estava sorrindo, pela primeira vez, pensei em arriscar um abraço, mas o moço brabo poderia estranhar, fiquei nos tapinhas no ombro, estava de bom tamanho; era notável a alegria dele, que passou o último ano em tres fases de tratamento, não tem disciplina nem modos e acaba comprometendo a eficácia do tratamento.
Ficamos ali eu e a minha filha, felizes com a felicidade dele, alegres com a alegria dele, aliviados com o fim da desesperança que insiste em se alojar e nos fazer chorar trancados no banheiro, virados pro bebedouro ou com a face entre as mãos, fingindo cochilar.
Vá na boa, "seu" Gabriel, que arrumou o bigode e limpou os sapatos pra receber uma boa notícia, seja Deus gracioso na sua vida!"

Alexandre Magno Aquino Duarte

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" Que Deus seja gracioso na sua vida, meu querido amigo Alexandre."

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Ruby Bridges, a primeira negra a ir para uma escola

Ontem foi o aniversário de Ruby Bridges!
Ruby foi a primeira criança negra a ir para a escola, com o fim da política de segregação racial nos EUA, em Nova Orleans, em 1960.
Seu primeiro dia de aula foi marcado por xingamentos, medo, racismo. A escola, pasmem, estava vazia, pois os pais não deixaram seus filhos frequentarem o ano escolar com a presença de Ruby. Também não havia professores, apenas um educador quis dar aula para Ruby. Seus pais foram severamente ameaçados. E, durante meses, ela teve que ir e voltar da escola acompanhada por 4 policiais.
E mesmo quando objetos e xingamentos eram jogados contra seu corpo, com 6 anos de idade, Ruby não desistiu, não chorou, sequer fraquejou. Era uma pequena soldada - palavras de Charles Burks, um dos quatro policiais que a escoltavam.
No ano seguinte, Ruby não estava mais sozinha na escola. Inspirados por sua coragem e pela de sua família outras crianças negras foram matriculadas.
Parabéns, Ruby por seus 63 anos de vida e por i
nspirar milhares de pessoas!!!!


A história dessa mulher negra é maravilhosa, mais ainda é a de sua mãe que foi através dela que a pequena Bridges começou a estudar e ainda para a professora .Barbara Henry que esteve o tempo inteiro ao seu lado como uma verdadeira mestra e anjo da guarda, nunca a tendo abandonado e diferenciado, assim como fizeram os demais professores
O racismo é uma doença maldita"

Artur Rodrigues- Escritor e editor